28 anos e não estar só


A vida é construção. Resumidamente. Passamos todos os nossos anos tentando construir um terreno fértil e menos dolorido para plantarmos nossos próprios corpos nessa jornada que chamamos morte. Nascemos cadáveres e nem sempre estamos conscientes disso. Lembro que antes dos dezoito fazer aniversário tinha relação com liberdade, com a ilusão de tornar-me dono de mim e com o entusiasmo de fazer minhas próprias escolhas e sofrer as consequências por elas. Depois dos vinte e poucos isso mudou, não existe para onde mais me libertar, e quem me dera menos consequências e mais paz, então cada ano vivido é um ano mais próximo da sepultura, e não necessariamente precisa existir um discurso triste em torno disso. Veja bem, nascemos certos de um fim e por isso o conceito de propósito tem relação direta com os de prazer e felicidade. Evitar a morte é impossível, mas viver melhor para morrer sem dor é desejável, e talvez seja sobre isso que se tornou o aniversário. O símbolo. Hoje ele é sobre estar aqui até agora, anos a mais que a expectativa e não tendo tantos problemas de saúde - não que eu saiba. Sou capaz de me sustentar e ainda posso ir e vir livremente, e entre economia e outra posso comprar minhas futilidades que me dão prazer e também desfrutar de companhia, de viagem. De certa forma a minha vida é tranquila, não do tipo que eu gostaria, mas bastante tranquila. E justamente o que anseio, ter menos preocupações, então por mais que eu me sinta sozinho tenho pessoas que sempre dedicam um pouco de tempo e investimento para mostrar que me amam e que posso contar, tanto nas alegrias quanto nas necessidades. E isso é um presente, um privilégio. E talvez seja o suficiente para querer permanecer vivo e ouvir essas felicitações e risos mais uma vez. Enfim, a vida pode ser simples e é desejável que ela seja.

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