sobre a morte e seu papel na existência

The Apotheosis of War, Vasily Vereshchagin

A morte é assustadora, tentadora e curiosa. Ela é certa, ainda assim desperta surpresa. Toca no nosso ethos mais íntimo, o medo da partida, a efemeridade dos dias, dos corpos, da própria memória. No fundo todos desejamos a eternidade. As pessoas de fé querem se tornar deus, as sem fé desejam tempo para fazer de tudo. E descobrir tudo, se é que é possível descobrir alguma coisa nova. Lembro que na primeira vez que perdi um amigo eu não desabei, fiquei reflexivo, não chorei, passei duas semanas com receio de viver. Não senti sua falta, admito, essas amizades convenientes da infância sempre tendem a desaparecer, mas senti uma profunda consciência de quão fracos e pequenos somos. Pela primeira vez eu senti medo de morrer, e a segunda vez foi quando sobrevivi a uma tentativa de suicídio, mas isso é outra história. Verdade é que hoje o meu maior medo é não poder me despedir. Não criar boas memórias com as pessoas que amo, desistir de me fazer e também fazer bem no meu período aqui. Ademais, a morte é certa, incerto é o quando. E por pior que seja, é um privilégio poder viver nesse planeta e ter a oportunidade de escrever essas palavras tortas aqui. A vida, essa longa e curta jornada, ela é um detalhe dos mais simples, somos nós quem atribuímos ou não algum valor. De certa forma, é a certeza da morte que nos permite a reflexão acerca daquilo que é estar vivo. Diferente da jornada, o final é bem conhecido.

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