amargo o café ou amarga a vida
A vida adulta é um porre ou uma decepção. A gente trabalha para pagar contas e nem por isso recebe em dia. A gente cuida da saúde para ficar vivo e continuar trabalhando para pagar contas. Ninguém foge disso. Ou se foge tropeça. Casamento, filhos, família? Não deixam de ser, também, uma outra forma de obrigação. De compensação. E qual a graça em viver para se compensar? Não sei, há quem consiga sorrir, gozar, se reinventar no olhar do outro. Construir significado. Ninguém quer morrer sozinho. Nem mesmo eu, que só consigo me lamentar por essa existência enfadonha nessa casca fria que se convencionou chamar de indivíduo. E tem dias em que me sinto uma peça de lego defeituosa, não caibo em lugar algum. Ou é nenhum lugar que consegue me receber? Paciência. Resta a virtude dos impotentes. A construção de significado. Todo dia um dia e todo dia o mesmo café. Afinal, Camus dizia sobre imaginar Sísifo feliz. Josué feliz. Amanda feliz. Lorena feliz. Vanusa feliz. No fim das contas é vontade e representação. Café aumenta a ansiedade e a ansiedade nos mantém vivos para o que der e vier. Se é.

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