a place to buy and tolerate strangers
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| Edward Hopper; Box Factory, Gloucester (1928). |
Não lido bem com as voltas e os bailes, suas luzes, os estranhos tocando meus ombros. Sempre me disfarcei na bebida e justifiquei minhas piadas avulsas ou inadequadas na embriaguez alheia. Mas sempre fui inofensivo, e a falta de carisma me fazia parecer "creepy". Um tipo que se escondida nas festas, sempre ao fundo, na companhia de algumas cervejas e uma cadeira vazia, observando os quadris que dançavam e como as músicas nunca casavam umas com as outras. Esquisito. Nunca quis ser diferente, e não era por falta de esforço, mas me sentia tão longe e inadequado que não conseguia fazer parte. Até hoje não sou parte, porém tornei-me um observador atuante, diletante, fugindo da curva, afinal, os trajes ridículos não marcam a carne. Verdade é que nunca consegui desfrutar dessa felicidade acrítica, e as explicações que eu pedia não eram respondidas na ação, no ato, nessa coisa de pele. Eu estava distante e tinha tempo de ver as lágrimas e os vômitos entre um beijo e outro, uma carreira ou outra, entre as gargalhadas e o valor a ser pago na comanda. Não, eu não chegava a ser infeliz, a verdade é que eu nunca estive ali de corpo e alma. Eu estava ali em pensamento, como estou agora. E aonde eu vou eu levo a minha casa - meu pensamento, esse lugar em que minha consciência existe se convencionou chamar de "self". Essa liberdade as avessas que existe entre o "eu" e a "sombra". Eu sou quem geralmente sabe como os outros se sentem, eu tenho o tempo e a paciência para observar. Bem ou mal, um tipo de "creepy", afinal, ninguém se escolhe. Se eu não estivesse ocupado com isso, talvez fosse outra coisa. Fora do canto escuro que pode ser confortável.

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