breviário de uma vida assalariada

As vezes inventamos um vilão para combater, um propósito para a existência, uma justificativa para os próprios sacrifícios. Nós preenchemos as lacunas e também fracassamos, isso é humano. Ainda assim permanecemos na encolha, engolindo a seco, sofrendo calados, fingindo sorrisos e mantendo o padrão medíocre de vida adulta, justo aquele que tanto exitamos em manter. Acho que isso é a parte que o conforto e a negação não nos privam. No fim das contas, é trabalhoso ser um herói. E não à toa, você chega em casa do trabalho contando os segundos para o próximo fim de semana -- e com muitas saudades do anterior. Você só quer se entorpecer, esquecer que a vida se arrasta entre cada balada, beijo e garrafa, um amor ou dois. Futuro. Vai ficar tudo bem, dizem. Você tem o pilar de todo homem, sua família plástica, fingindo coisas e estórias que te confundem dia após dia. Verdade é que para muitos de nós, com os anos passando, e as costas que doem, acabamos matendo uma garrafa de whiskey como melhor amiga para se entorpecer durante a semana. "É isso que eu tanto busquei?", vai indagar. E provavelmente vai morrer em dúvida, em dívida, entre um ou outro desses fins de semana embriagados, hipotéticos, pura nostalgia. Nos somos esses monstros debaixo da cama. Cama de carne. Vilões inventados de filme B ou até paródia pornô. Ou tudo que o Ego quis. Aquilo que se faz de nós.

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