tem amor depois das trevas, mary ann


Lembro que fui convidado para um café em que nunca fui. Tinha medo de ser desvendado, pensava essas bobagens sobre não deixar que saibam o quanto eu sangro. E você, com seu tom de estranhamento, não ajudava, sempre evitativa - como no transtorno de personalidade, preferia mentir sobre falsos entendimentos. Eu não gostava disso, e eu peço desculpas, mas detestava qualquer verdade sobre mim que não fosse a minha. Eu fui ou sou egoísta. E agora, que entendo de verdade que nem todas as verdades podem ser relativas, vejo que afastei tantas possibilidades quanto trouxe boas pessoas para perto de mim. E o estranho é que as vezes perto é longe, já que certas proximidades não acompanham a quilometragem das distâncias que nos separam. Mas ainda tenho a sina de sofrer com quem mora longe, e também rir demais, já que o riso nos faz tão próximos quanto o choro. O que eu aprendi com isso? Ninguém sabe.

Às vezes me sinto sábio, de verdade, mas na maioria das vezes sou uma fraude maior que a maioria dos meus sonhos. Mesmo os mais inocentes. E é verdade que a vontade de ser escritor e morrer aos 21 foi embora quando percebi que haviam mais coisas me mantendo vivo que um maldito coração. Em alguns dias foram somente as obrigações. Mas em outros, enquanto sorria, meu deus, que maravilhosos os risos sinceros que compensam as semanas mais duras. O riso honesto que faria qualquer diabo mais manso que um coelho. Que aperta o peito e traz esperança sobre o fim. O fim, essa coisa que começa no primeiro minuto de nosso primeiro dia.

Viver não faz sentido, mas essa meia dúzia de sorrisos honestos faz de um coitado o rei da alegria, mesmo um coitado tão triste e perdido quanto eu fui, ou quanto eu sou. 

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