escrita
dizem os poetas que sua arte é incompreendida, profunda, que requer sensibilidade, espaço, contemplação. talvez eu seja amargo, mas acredito que se tratam de palavras. que se escreve melhor na medida em que se aprofunda na leitura. que um poema é preciso como uma episteme, na medida em que cresce, é tentativa e erro. basta um sorriso, um passo em falso, um sofrimento - e a vida é cheia deles, basta qualquer coisa e o cérebro treinado e suas rápidas mãos vão tercer os versos mais lindos, mais tristes, outrora absurdos, que qualquer ser humano jamais escreveu, ou escreveu tantas vezes para ninguém ler.
lembro de alguém dizendo que todo poeta é um enganador, e acho que o mesmo se aplica aos escritores. ainda que amadores, toda literatura, de certa forma, é confissão, e bons livros, ao contrário de relicários, são diários de vida, de passos dados, tropeços mais ainda. livram-se da regra os cientistas, os filósofos, os técnicos, engenheiros e matemáticos, e até eles, vez ou outra, deixam vazar de si em seus devaneios e divagações, como num primeiro capítulo introdutório ou nas expectativas de um futuro melhor, como tão bem fez sagan. verdade é que nossa obra não passa de uma biografia, alguns autores são bons, outros nem deveriam escrever, mas mesmo assim a vida segue, as mãos tremem, os olhos sangram e a tinta borra tudo que se pretendia lindo. tudo que somos é também confessional.
ninguém é mais do que pode, e os que são, já são história faz tempo.

Comentários
Postar um comentário