chá de gengibre, capim cidreira ou um pouco de tanchagem

 


A vida tem um gosto forte mas nem sempre amargo, arde feito canela, ácido feito limão. Jonas plantava cebolas e alfaces entre uma mentira e outras, um bom e velho trabalhador mentiroso. Laura ficava na quitanda olhando a rua sempre com a mesma cara de potro amuado e desprezo em ser seja lá o que for. Eu era um menino sonso, jogado no meio de tudo, mal falava e tinha medo de gente. Acho que por isso observo detalhes, não sabia fazer mais nada. Quando Dona Jandira morreu eu perguntei aos adultos se câncer era um tipo de cobra. Riram e depois ralhavam comigo, era sempre a mesma estória. Seu Jucá depois que ficou viúvo só queria saber de revista de mulher pelada, ficava mostrando pros outros em quina de rua. Minha mãe sempre disse para não confiar em velhos tarados, mas melhor seria ter dito para não confiar em ninguém que não fosse nem um tiquinhozinho esquisito feito eu, que ouvia a fofoca de todo mundo mas não tinha nada para contar. Quando mataram meu primeiro gato, injustamente acusado de comer uns canários de um vizinho, ali foi a primeira vez que senti que minha vida acabou - daquele dia até hoje ela acabou quinhentas mil vezes. Mas estou aqui, não? Jonas foi embora, Laura agora é pastora Seu Jucá perdeu a visão. Voltei para cá e tenho medo de estar sempre de cara fechada feito potro amuado. A gente envelhece e se enche de medo besta.

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