um deus anotando as coisas
Talvez possam até caçar o meu registro profissional por dizer isso, mas maior parte do que a psicologia entende como boas habilidades sociais consiste em saber mentir bem. E ao contrário do que presume o senso comum, saber mentir é uma vantagem maravilhosa e uma habilidade que pode te livrar de problemas e até salvar sua reputação como trabalhador, funcionário, amigo, filho e etc. Acontece que eu minto mal, não sei se pelo autismo ou pela tendência suicida, mas eu me entrego e/ou me saboto rápido demais. Não sei mentir se não achei seu vestido bonito, e para o meu cérebro a assimetria visível dos seus seios é uma informação que merece ser comentada. Antes da psicoterapia eu era um sincericida, e o preço por dizer a verdade o tempo todo é o abandono, já que uma característica inerente à verdade é a frustração e a dor que ela provoca. Se eu espalhei dor? Não sei, mas mesmo em terapia não aprendi a mentir, o que aprendi foi a função da omissão. De saber guardar para mim o que antes parecia coletivo, de falar o necessário quando necessário e guardar a heresia para os amigos. A verdade é que vez ou outra tento mentir mas acabo pego no ato, assim como sou pego quando digo estar bem enquanto meu rosto e meus passos escancaram a mais profunda depressão. Talvez por isso ache a vida exaustiva, sou um livro aberto colorindo as próprias páginas por se cansar de tanto ser lido, ainda que na maioria das vezes essas leituras se provaram equívocos, o movimento que fazem com as páginas não machuca os dedos, mas deixa o papel amarelado. E o problema, ou o papel, isso sou eu.

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