36ºC
O suor escorre pelo meu rosto quase como se ele estivesse a derreter. Encontro-me só enquanto as cachorras dormem. O vizinho, canalha barulhento, escuta uma música que mais parece uma multidão me suplicando suicídio. Penso nos cães de rua, em tudo que Deus não faz por eles. Penso na minha Mãe, nos seus problemas respiratórios e em como o clima nos maltrata. E penso no curioso caso de como três décadas no fim de mundo ainda não me tornaram tolerante a ele. Eu odeio o vento quente, odeio os meus pés rachados, odeio o mato seco e morto e odeio esse suor. Não sei nem o que amo, enfim. O país nos condena a isso, mas o norte de minas extrapola a condenação. É impossível estar em paz quando respirar queima as vias respiratórias. E é impossível querer qualquer coisa quando só se tem acesso ao nada. Se houvesse deus, a vida por si só seria a nossa grande punição. Um verdadeiro messias? Talvez um ar-condicionado. Quem precisa de um inferno cristão?

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