a fome das coisas minhas e findas
Eu tenho quase trinta anos e me parecem ser quase trinta os anos em que enfrento a depressão. A bem da verdade, não me lembro como gente sem que em algum momento não sentisse esse desespero e melancolia que a vida me provoca. Não lembro de algum dia ter estado apenas feliz, ou simplesmente contente, sem mais nada a me atormentar. Verdade é que sempre existe tormento, mesmo na felicidade. E não fossem essas palavras vazias, os risos das minhas amigas e as promessas de encontros e viagens que findam no limite que o financeiro impõe, não sei o que seria da minha vontade. O medíocre não me basta, o comum não me apetece, não me basta falar da vida frivolidades ou querer do mundo banalidades. Não me apetece a ideia de jogar todo o desespero, desgosto e vazio em um filho e um cônjuge como se fossem tapar qualquer coisa quebrada em mim que não pode ser consertada. Não me aconchega a ideia de levar pros outros os meus carmas, tentando fugir deles com promessas e desilusões de jardins e floreios. Não, não, eu não consigo me desligar das coisas. Não consigo olhar a folha e não dizer o que sei sobre a folha, e não desejar saber ainda mais sobre as folhas. Não consigo me calar, não tirar das pessoas o que elas pensam sobre tudo, e quando não pensam, ah, quando elas não pensam eu não consigo sentir mais nada. Estou cansado de prometer contos e encontros sem a certeza de sequer poder pagar por eles honestamente. A bem da verdade, o mundo é feito por normais e para normais, eu estou perdido no meio e exijo uma lógica proposicional que a realidade não oferta. Ora eu quero algo, ora nada. Talvez todos sejam assim, mas não me interessam todos, essas coisas amorfas de grupo. Eu quero saber de você assim como sei e quero saber ainda mais de mim. Até quando o desespero me maltrata, até quando o ambiente me limita. Eu só quero saber mais.

Bem profundo e triste ao mesmo tempo...
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