individuação e dureza


Desde menino os meus gostos foram alvo de rotulação. O que eu desenhava, as músicas que eu escutava, minha dificuldade de socialização, tudo me jogava para a estranheza. Não posso mentir que isso não influenciou negativamente quem sou hoje. Nem glamourizar minha desgraça como um tipo de provação necessária mantida por ente superior. Era doloroso não me sentir normal, essa norma que ainda que desde pequeno eu percebesse medíocre, idiotizante e pueril. Era eu sozinho contra o mundo, eu sozinho tentando não ser humano, e por muito pouco eu não desisti. Foram pelo menos três tentativas de suicídio, uma centena de outros planos mais. Foram a extrema pobreza, a homofobia, o bullying, a solidão, o racismo, a inadequação. Eu não queria ser, ainda assim eu persisti na minha individualidade. Eu larguei tudo e me fechei. E olhando com os olhos de agora, eu tinha razão. Não na tristeza, no desejo de morte ou em tentar ser como os outros. Eu tive razão em no final escolher eu mesmo, para bem e para mal. Eu escolhi eu mesmo. Salvo pelo individualismo, esse rótulo comumente ligado a tudo que é ruim. Eu sou ruim? Tentaram me convencer. Se ainda acredito neles? Minha consciência diz que não importa. Meu mundo pessoal me diz que persistir no “eu” sempre valeu a pena. A paz de estar claro de si mesmo não se compra numa roda de conversa. Ainda que as minhas rodas sejam quase todas boas demais. Rodas de pessoas que valorizem a si mesmas. Eis uma boa maneira de se praticar a amizade.

Comentários

Postagens mais visitadas