o relógio sobre a cabeça



Depois dos vinte anos um relógio se materializa na consciência. Tudo é tempo. Fins de semana, rivotril, bom senso. Tudo é plano. Mas quanto tempo até o término do prazo de conclusão daquilo que nem chegou a ser iniciado? Tem salário a cada trinta dias. E tem muito tempo até ver os amigos. Mas quanto vou viver para aproveitar o tempo? O relógio monopoliza a consciência. A vida passa indiferente. O padeiro vende o pão, tem desconto? O padeiro diz não. O relógio diz não. Mas o tempo passa. E o tempo é rei, dizem. O tempo é minha companhia, o túmulo nosso refúgio. Mas quem é o túmulo se não o que o relógio diz? Relógio fala? Um boleto novo a cada semana. O boleto é caro e a vida também. Mas quanto tempo ainda tem sem pensar em quanto tempo ter para gastar? Não sei. A cobiça é muita. O salário? A cada trinta dias. E tem o padeiro que não dá desconto. O namoro que não deu certo. Aquele deus de carne que nunca volta. Odeio atrasos. E tem a vida, o cosmo, a esperança, a família, o tédio. Ah, a existência é indiferente. O tempo ele nunca para, a vida um dia.

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