e contemplar o teto não pode ser meditação

Besteira quem diz que não teme acabar sozinho. A fadiga do tempo incomoda o mais forte dos homens. O corpo deteriorado, a cognição falha, a fraqueza impossibilitando o trabalho, os pulmões que já não enchem como no auge, o frio de sempre, a boca seca, a dor nas costas e as dezenas de comprimidos. Qual final é digno? A própria companhia sufoca quando não existe a opção de se compartilhar, de saber que alguém se importa. Então a solidão, fetiche antigo da literatura, ela não revela o hábito de sermos alguém somente ao nos reconhecermos. Sem os outros, somos ninguém. E um cão ou gato, por melhores companhias que sejam, não podem te vender a falsa impressão de eternidade naqueles momentos em que você só quer um abraço e ouvir que vai ficar tudo bem, ainda que saiba que, na vida, só a morte é inevitável. E que a imortalidade, fetiche antigo da religião, ela não é mais que o tempo em que alguém vai conseguir se lembrar de ti. Quem some de certa forma morreu, mas, e quem vive sozinho, é alguém? É só uma dúvida recorrente? Não foi Aristóteles quem se fez eterno. E em agosto eu faço vinte e sete.

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